O adolescente é egocentrista e como tal sente que nada o afeta e gosta sobretudo de contrariar as normas e regras sociais, no sentido de se afirmar perante o adulto que continua a considerar que pode controlar os jovens com imposições e regras que “são para ser quebradas”. Independentemente da idade de permissão ao consumo, os jovens consomem cada vez mais cedo, pedindo aos mais velhos que lhes comprem as bebidas, ou consumindo as bebidas que os educadores deixam à disposição, em casa. Nesse sentido, parece-me que esta medida serve não mais do que incentivo ao consumo. É preferível um consumo consciente e com adultos presentes, com permissão aos jovens nas entradas em bares, do que a proibição e o consumo clandestino sem nenhum adulto por perto que os possa ajudar.
Deste modo, deve-se prevenir o consumo e não remediar com estas medidas que trazem aos jovens mais raiva para com os adultos. Prevenir com programas de prevenção ao consumo que mostram ser mais eficazes no aumento dos conhecimentos acerca do consumo e permitem o desenvolvimento de atitudes e expectativas mais seguras acerca do uso do álcool. Assim, no contexto de uma prevenção primária para uso do álcool, é importante que as intervenções se desenvolvam antes dos padrões comportamentais estarem estáveis e resistentes à mudança, ou seja, vamos intervir aos 12, 13 anos, nas escolas com programas de prevenção que se mantenham ao longo do tempo, com participação ativa dos jovens nesses programas.
O comportamento de consumo de álcool é aprendido através da modelagem, imitação e reforço, sendo influenciado pelas cognições, expectativas e crenças do jovem acerca do mesmo. Esses fatores em combinação com as competências pessoais e sociais pobres conduzem a um aumento da suscetibilidade às influências sociais para o consumo de álcool. É importante não esquecer que os nossos jovens vêm de meios bastante distintos e alguns contactam de perto com o álcool o que aumenta a probabilidade do consumo.
É nas Escolas que os alunos devem ser tratados de igual forma, com modelos exemplares e é na Escola que existe a possibilidade de maior eficácia na prevenção do consumo intervindo, com uma equipa multidisciplinar, através dos programas de Educação para a Saúde, interferindo nos fatores cognitivos, atitudinais, sociais, de personalidade, farmacológicos e de desenvolvimento que propiciam a iniciação e manutenção do consumo de álcool. Em Portugal, estes programas são incipientes, as Escolas são obrigadas a trabalhar na área da saúde, mas com pouca orientação e pouco apoio dos Centros de Saúde e das Famílias, essenciais a uma equipa coesa que se preocupe verdadeiramente com estes jovens.
Vivemos uma desresponsabilização social constante. A maioria dos educadores não colabora com a Escola, os Centros de Saúde não dispõem de meios para colaborar com as Escolas, os professores não estão sensíveis aos problemas. É tempo de não fugir ao problema do consumo de álcool, mas encará-lo de frente e vê-lo como uma solução.
Patrícia Fonseca
Patrícia Fonseca